A História do Beijo
http://www.slideshare.net/lerita/geometria-e-arte
( O Beijo - Obra de Francesco Hayez )
No mecanismo da sensualidade,
o beijo é um capítulo muito especial, por estar ligado ao próprio
desenvolvimento das pessoas. Beijar, explica o antropólogo inglês Desmond
Morris, "tem sua origem na relação mãe e filho". Nos tempos primitivos,
depois de sugar o peito, a criança recebia alimentação sólida devidamente
mastigada pela mãe e passada à boca, à maneira de certos animais e pássaros. O
costume ainda sobrevive em algumas tribos de várias partes do mundo. Da mesma
forma como sugar o seio, esse contato tornou-se definitivamente ligado ao
conforto e à segurança infantil. Acontece que beijar, como sugar, persiste na
vida adulta "como um gesto de conforto fortemente associado a relações
amorosas", escreve Desmond Morris.
O beijo apareceu já nas
esculturas hindus ( da Índia ) do ano
2500 a .
C.
O homem, portanto, aprende a
beijar desde que vem ao mundo e foram muitos os psiquiatras e psicanalistas, a
começar por Sigmund Freud ( criador da psicanálise ), que se preocuparam em
interpretar como evoluiu esse movimento originalmente voltado à nutrição e à
sobrevivência para o desfrute de um prazer. Beijamos também por costume,
educação, respeito ou também por mera formalidade. E as características do
beijo variam segundo o que se quer expressar com ele. Uma das primeiras
representações do beijo de que se tem conhecimento são as esculturas e murais
do templo de Khajuraho, na Índia, que datam do ano 2500 a.C.
No século IV da
era cristã publica-se na Índia o Kama Sutra, considerado o mais completo
tratado sexual do Oriente, atribuído ao sábio Vatsyayana.
Na Grécia antiga, o beijo
funcionava como um elemento diferenciador das hierarquias: os subordinados
beijavam os superiores no peito, nas mãos ou nos joelhos, de acordo com o nível
que possuíam. Os mendigos tinham unicamente o direito de beijar os pés dos
senhores, e aos escravos só se permitia beijar a terra. Ou seja, quanto mais
baixo o lugar do indivíduo na sociedade, mais ele devia inclinar-se para
prestar a homenagem.
Na antiguidade os persas se cumprimentavam com beijos
que, como na Grécia, variavam de acordo com o nível social das pessoas. Relata
Heródoto: "Quando pertencem ao mesmo nível social, as pessoas beijam-se na
boca. O beijo no rosto é usado se existe uma pequena diferença entre
elas".
Os preconceitos contra o
beijo são igualmente antigos. No início da era cristã, outro historiador grego,
Plutarco, que deixou uma imensa obra sobre os costumes na Grécia e em Roma,
conta que Catão, o Censor (234 a.C.-149 a.C.), cessou o mandato do senador
Pretorius Mamillus, porque foi visto beijando a mulher em público. Mas em
particular os romanos nada tinham contra o beijo. O latim até registra três
palavras para defini-lo:
1- osculum é o beijo amistoso, nas faces; 2 - basium, o
beijo apaixonado na boca; e 3 - suavium, o beijo amoroso com ternura.
O beijo nas faces vem da
época em que os humanos dependiam muito mais do olfato para sobreviver. Os
homens cheiravam uns aos outros para saber se pertenciam a uma tribo estranha e
eventualmente inimiga. Supõe-se que cada grupo devia possuir um odor
característico, o cheiro do grupo. O beijo no rosto, portanto, não nasceu como
expressão de carinho ou prazer, mas como meio de defesa. Talvez por isso os
povos acostumados a habitar um ambiente hostil ou forçados a viver em pé de
guerra virtualmente desconhecem o costume de beijar por afeto.
Um provérbio
sudanês adverte: "Jamais beijes quem seja capaz de te devorar".
Os esquimós, muito prudentes,
resolveram o problema encostando as pontas dos narizes, enquanto mantêm os
olhos abertos, vigiando a situação. Da mesma forma, o mongol apoia o nariz no
rosto de seu par, conservando um cômodo ângulo de visão. Existem povos que nunca
se beijam, como certas etnias africanas e os antigos japoneses.
Certa vez, numa
exibição de arte em Tóquio, a escultura de Rodin, "O beijo", foi colocada atrás
de um biombo. Diante da queixa de um visitante, o chefe de policia explicou:
"O beijo é um detestável hábito europeu que nós, aqui, desejamos que não
se cultive de maneira alguma".
Já os antigos africanos, de algumas regiões, ao
absterem-se do beijo, estão tentando proteger sua alma, alegoricamente ( metaforicamente
) identificada com o alento ou com a respiração. A respiração para eles é a alma. A boca e o aleitamento são a representação da vida e da
alma também. O primeiro grito do recém-nascido é seu primeiro sintoma de vida.
Assim também o homem abandona o mundo, dando o último suspiro. E Deus soprou a
vida em Adão, assim como nos contos de fada o príncipe devolve a vida à Bela
Adormecida e a Branca de Neve, vítimas de um enfeitiçamento.
Mas o beijo também
pode significar a morte. Segundo as regras da Máfia, quando algum membro do
grupo trai seus pares, um parente é encarregado de lhe dar um beijo ritual na
boca, indicando a vítima cuja execução foi aprovada pelo chefão.
Na França de Luis XIV, o Rei
Sol (1638-1715), foi instituído o uso do beija-mão, que no começo obrigava os
homens a inclinar-se para beijar as mãos das damas. Na verdade, muitos altos
funcionários e nobres da corte nunca aprovaram o costume: achavam humilhante
fazer uma reverência diante de pessoas que lhes poderiam ser socialmente
inferiores.
Assim, eles inventaram uma regra que não iria romper totalmente com
o protocolo, aproximavam a mão das senhoras até a boca e a apertavam uma ou mais
vezes, operação que não os impedia de continuar retos e com sua vaidade ilesa.
Esse gesto, em nossos dias,
perdeu seu significado quase por completo, em parte como resultado da
diminuição na desigualdade de tratamento entre os sexos. Continua a ser usado
apenas em altas esferas sociais, como um formalismo destinado à mulheres muito
importantes. Os únicos beijos que permanecem, na boca ou nas faces, são os que
indicam igualdade, que se dão sem que seja preciso que uma das pessoas se
abaixe. Assim se beijam os amigos, os companheiros de luta, os políticos, os
esportistas, os casais e também os membros de uma mesma família.
Imortalizado nas artes como
uma celebração mágica e romântica, foi com o cinema que o beijo tomou conta do
mundo. Em 1896, numa pequena sala de projeções de Los Angeles, nos Estados
Unidos, diante do olhar estupefato de 73 espectadores, os artistas May Irwin e
John Rice beijaram-se durante quatro longos segundos. Foi um beijo explosivo,
filmado em primeiro plano. Todas as associações femininas de defesa da moral e
dos bons costumes dos Estados Unidos estimularam então o boicote ao filme; a
imprensa também censurou o que chamou de moral de taverna.
Fonte: Revista Super Interessante
(SUPER número 4, ano 6)
23 - Assista ao primeiro beijo exibido no cinema em 1896 ( séc. XlX ) - Um escândalo histórico!
O primeiro beijo exibido no cinema foi filmado em 1896, registrando o beijo dado em cena pelos atores May Irwin e John Rice durante a peça "A Viúva Jones".
A sequência, pudica para os padrões atuais, foi, no entanto, suficiente para escandalizar os espectadores da época.
Críticos consideraram a cena "absolutamente repugnante" e o filme foi boicotado por associações que bradavam pela moral e pelos bons costumes daquele tempo. Um escândalo histórico!
O que você acha?
23 - Assista ao primeiro beijo exibido no cinema em 1896 ( séc. XlX ) - Um escândalo histórico!
O primeiro beijo exibido no cinema foi filmado em 1896, registrando o beijo dado em cena pelos atores May Irwin e John Rice durante a peça "A Viúva Jones".
A sequência, pudica para os padrões atuais, foi, no entanto, suficiente para escandalizar os espectadores da época.
Críticos consideraram a cena "absolutamente repugnante" e o filme foi boicotado por associações que bradavam pela moral e pelos bons costumes daquele tempo. Um escândalo histórico!
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