Em Patch Adams, fica claro como se chega à objetividade científica traduzida em gestos e falas que mais se assemelham a autômatos (máquinas, robôs, pessoas sem sentimentos). O filme relata a história de um homem com tendência suicida que, no hospício, descobre um sentido para a vida: ajudar o próximo. Nesta busca de si próprio e do outro, ele, Patch Adams, decide fazer o curso de medicina. Na faculdade, entra em choque com a burocracia e, principalmente, com a filosofia de ensino automatizado defendida pelo professor-reitor. O paciente se submete à autoridade do médico, o que atesta o seu poder científico. Como o poder causa dano, a solução apregoada pelo reitor para evitar ou minorar (diminuir) as consequências é a recusa dos sentimentos e a valorização absoluta da objetividade científica acima da subjetividade, da emoção, dos sentimentos. Nesta perspectiva, a tarefa dos professores é "desumanizar" os futuros médicos, isto é, recusar-lhes o status de humanos (com suas paixões, sonhos, fraquezas e dilemas), e transformá-los em médicos automatizados e sem sentimentos.Apenas a frieza da ciência séria e distante da subjetividade. A relação deixa de ser uma relação entre humanos e passa a ser uma relação sujeito-objeto, do médico com a doença. Os doentes são desumanizados, anulados em sua identidade e transformados num número da ficha hospitalar, num caso a ser estudado, diagnosticado e tratado.Nunca se leva em consideração suas emoções, seus pensamentos e sentimentos, apenas o que importa é a doença a ser curada e não o ser humano como um todo. A ciência só enxerga a doença e não leva em consideração o sentimento do paciente. O paciente é apenas um número na ficha do médico tradicionalista.
Eis como se forma um cientista frio, sisudo, desprovido de subjetividade – como se isto fosse possível! A propósito, seria a sisudez um aspecto inerente ( próprio ) ao ato de fazer ciência? Observa-se neste filme como alguns indivíduos que representam o saber científico (médico, professor, pesquisador, técnicos etc.) distanciam-se dos demais seres humanos e adotam um ar de gravidade ( seriedade ) – confrontado, em Patch Adams, pelo bom humor e o jeito peculiar de encarar a profissão. É interessante como este estilo influencia os estudantes: o aprender transforma-se em sinônimo de desprazer, competição e inveja (como se a cretinice e a chatice fosse condições para o trabalho intelectual). A prática de Patch Adams, coloca em xeque o método de ensinar-aprender tradicional. Não por acaso, o reitor defende-se dos questionamentos com um argumento tipicamente científico: “Nosso método é o resultado de séculos de experiência”.
Patch Adams também representa um desafio ao saber instituído, na medida em que questiona seus pressupostos e projeta uma experiência nova, onde todos aprendem e ensinam mutuamente (a ideia de um hospital no qual os doentes e médicos aprendem uns com os outros e somam esforços no sentido de tornar a vida melhor).